segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O que é arte para você?


Murilo Borges


Você está andando na rua e se depara com um daqueles artistas, fazendo malabarismos, distraindo os pedestres e, por que não, aqueles que estão dentro de seus veículos, mas passam devagar apenas para ver este pequeno show. Com certeza, o primeiro pensamento que vem a sua mente não é: “Isso sim é arte!”.

A mesma pessoa, talvez, pode pagar para entrar em uma exposição ou em um museu e, depois de olhar somente um quadro, solta o comentário anterior, mesmo sabendo que seu entendimento por arte é tão nulo quanto o de um historiador sobre a equação de Báskara. Afinal, qual a diferença entre os dois modelos de arte? Será que os dois são arte? Ou nenhum o é?

A resposta, primeiramente, depende da concepção de cada leitor sobre a forma de arte. Na humilde visão daqueles que vos escreve, a arte é tudo que faz o ser humano fantasiar e sonhar com um mundo paralelo, quase que inalcançável em nosso cotidiano; é algo mágico, que nos permite enxergar por além daquela tela, daquele artista; é a perfeição de alguns instantes, que são eternos enquanto duram (com perdão do uso das palavras do poeta); discordo da frase que diz que a arte é racional, pois é o irracional, o impensável e o sobrenatural que movem a arte.

Portanto, caro e questionador leitor, os dois são, sim, formas de arte. Deixando o formalismo e o informal na calçada, presumo que, quando se olha para os dois (apesar de não parecer) perdemos a noção de onde estamos e passamos a nos deparar apenas com os movimentos do artista, ou as curvas de determinado quadro.

Não quero, neste diminuto texto, brigar com o mundo e dizer que a arte não se encontra onde todos pensam. Não sou louco o bastante para dizer que arte não se forma pelos textos e poesias machadianas, pelas melodias de vários expoentes nacionais ou mesmo nas pinceladas de Da Vinci e companhia (i)limitada. Apenas venho para valorizar àquele que também é artista, só que não possui a valorização necessária.

Concluindo, há de se parar com esta de que a arte se encontra apenas (eu disse apenas!) nos museus, nas músicas de Chico Buarque ou nas coreografias do Cirque D’Soleil. Arte se encontra nas pequenas coisas, no centro da cidade, no semáforo mais próximo de sua casa, na fantasia do artista ou mesmo na mente do apreciador. Arte, em seu mais puro modelo de concepção, depende da sua compreensão da cada um; depende da sensibilidade, dos sentimentos daquele que a vê; depende da mente aberta da pessoa, que não fica presa aos mesmos modelos.

Mude a concepção. Passe a olhar para aquele malabarista no semáforo como artista. Passe a ver nos animadores que se situam nos grandes centros das cidades como artistas. Você, inteligente e perspicaz leitor, saberá que nada do que aprendeu sobre arte pode ser definitivo. Dê a chance de ser surpreendido. Afinal, arte é fantasia, sonho, desejo de mudança, reflexão, vida, manifestação, compreensão da realidade. Expressão.

FOTO: www.uel.br

Arte em Muro também é arte?!

Débora Barduchi

Grafite ou Graffiti significa "marca ou inscrição feita em um muro". Trata-se de um movimento organizado nas artes plásticas, em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional (pintura) para interferir na cidade. Suas primeiras manifestações surgiram nos muros de Paris, com a revolução contra cultura, de maio de 1968.

Desde essa época, o Grafite é incluído nos grandes centros urbanos, por ser quase que impossível não reparar neles quando se anda pelas grandes cidades, como por exemplo, São Paulo. Contudo, o grafite ainda não teve o seu destaque merecido no meio artístico. Ainda que esteja crescendo no conceito de alguns, para outros ainda é considerado um ato de vandalismo, que em nada lembra uma manifestação artística, e sim o fato de um grupo de pessoas picharem locais públicos, para se divertir.

Esse meio de expressão - que é diferente das pichações, isso tem que ser deixado bem claro - tem muito a acrescentar para a população. Isso porque está inserido no mundo Hip Hop, no mundo das periferias; é o artista, que vive nesse meio, falando para o resto da população, mandando sua mensagem, sua fala sobre a realidade, de uma forma que todos a entendam.

Se toda forma de arte é um meio que o homem encontra para se expressar, passar uma mensagem e suas emoções para o mundo, de um novo mundo, o que mais eu poderia dizer, para que o Grafite fosse considerado arte?!

Cinema: arte das produções ou da bilheteria?

Caio Falcão

O cinema é uma arte que nasceu na França, no final do século XIX, criado pelos irmãos Lumière. Contudo, aquele que é considerado pai do cinema é Meliès, que comprou o aparelho inventado pelo dois irmãos e começou a produzir seus próprios filmes, contando histórias da ocasião e fazendo até documentários.

Com o passar dos anos, o modo de fazer cinema foi evoluindo, através de técnicas e a já conhecida tecnologia, que fez com que singelas produções tomassem um status grandioso. Porém, não se apagou toda aquela mística envolvida.

No começo, os filmes eram simples e sem muitas encenações (considerados até “pequenos”), pois o trabalho para se fazer uma produção era grande por demais. Não se havia muitas salas espalhadas nos países para a distribuição. Além disso, outro fator que atrapalhava a divulgação dos filmes era que os cinemas da época não apresentavam som e cor.

A chamada “Sétima Arte” (nome conseguido com o sucesso de público nos anos seguintes à sua invenção) contou com clássicos como os filmes de Charlie Chaplin, em que o preto e o branco, além da ausência de som, faziam com que a expressão corporal do ator fosse o mais dominante.

O cinema contou, ainda, com filmes inovadores como Star Wars e Matrix, que tiveram a função de mostrar uma ficção e contaram, para atingir seu objetivo, com tecnologias mais apuradas da época; com produções misteriosas, do grande expoente na direção de filmes Hitchcock; e, finalizando, histórias reais, como a retratada no filme “O Poderoso Chefão”.

Hoje em dia, parece que algo se perdeu. As pessoas que vão assistir os filmes na grande tela não ligam mais para a qualidade do filme, para o contexto histórico (caso ele não seja uma ficção científica) ou para uma história que os leve a pensar e refletir. O que é realmente valorizado na atualidade são as superproduções, que contam com atores consagrados (muitas vezes apenas pela sua beleza, deixando de lado a atuação).

Isso fez com que o cinema mudasse muito daquele criado e imaginado na França, onde o importante era passar a mensagem e não ganhar dinheiro. Esse conceito parece ter se perdido em Hollywood, onde o filme consagrado é aquele que traz frutos na bilheteria.

Cinema não é só pipoca e refrigerante, homens e mulheres bonitas. Cinema é arte traduzida nas telas, uma imitação da vida real, que mexe com o imaginário de quem assiste, que leva a refletir e pensar melhor na vida. O conceito de arte precisa mudar, para a sobrevivência do bom e velho cinema, surgido nas idéias francesas dos irmãos Lumière.

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Teatro no século XX

Leonardo Cassano

Como já vimos no início da outra postagem sobre o tema, o século XX é a era da extrema profissionalização do Teatro. As Companhias de Teatro se organizam com vários propósitos. Há aquelas que se estabelecem para um só evento e depois se desfazem e aquelas que têm a intenção de desenvolver trabalhos a longo prazo, montando um repertório. Existem as especializadas em montar determinados autores, gêneros, estilos ou técnicas. A quantidade de integrantes em cada Companhia varia conforme o projeto. Tudo depende da verba.

O diretor pode ser alguém integrante da Companhia ou ser contratado para aquela montagem específica. Todos os atores possuem contratos que variam de apenas uma apresentação até vários anos, seja numa companhia empresarial, estatal, ou alternativa. Toda a equipe técnica e administrativa (desde o varredor de palco até o diretor de promoção) podem ser ou não integrantes fixos das companhias e também têm seus contratos. Além disto, todos são reconhecidos por leis e pelo sindicato dos atores (SATED) que protegem os direitos trabalhistas.

Ainda há bolsões de preconceitos ou idealizações em relação à profissão, mesmo entre os próprios integrantes (artistas, técnicos e produtores). Ás vezes, tudo é tratado com superficialidade ou glamourizado pela mídia. Mas o artista sério passa por cima disto e dignifica sua profissão, não se envolvendo com a mediocridade. Para não se iludir é preciso que, em primeiro lugar, respeite a si mesmo como pessoa, e faça-se respeitar na sociedade e, em segundo lugar, seja honesto com seus colegas e no mercado de trabalho.

Existe também o teatro amador, que é feito por pessoas que desenvolvem outras atividades profissionais, mas que, paralelamente, gostam de fazer teatro e servem alguma comunidade com um pouco de lazer ou no caso de estudantes, caminhando para a profissionalização.

O Teatro no século XX começou a concorrer com outras formas de espetáculos e lazer, tais como os shoppings, cinema, rádio, internet, esportes e parques de diversão. Mesmo assim, estas atividades abriram um mercado de trabalho enorme para vários ofícios da atividade teatral, como, por exemplo, os eventos que ocorrem em shoppings e parques, que contam com atores fazendo esquetes teatrais.

De qualquer forma, parte do público do Teatro foi perdido. Como recuperá-lo? Só os artistas com responsabilidade e profissionalismo irão responder.

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Definição e origens do Teatro

Leonardo Cassano

Teatro é uma arte cênico-dramática que tem por objetivo apresentar uma história fictícia, ao vivo, representada por atores com apoio ou não de cenário, figurino, adereço, maquiagem ou música para uma platéia presente, que se envolve emocionalmente (ou não) com o espetáculo, mas não toma parte dele.

Esta definição é a dos pensadores do século XVIII. E é exata, porque contém todos os elementos essenciais desta Arte: o ator, ao vivo, e o espectador. Está pressuposto, logicamente, o espaço, porque só há trabalho humano em reais condições de local e de época. Os outros elementos são circunstanciais.

A tríade ator-espaço-espectador passa despercebida pela maioria das pessoas que acompanha o Teatro. Isto porque no seu desenvolvimento, por diversas razões sócio-artisticas, algum elemento extra foi mais valorizado ou realçado e obscureceu a essência desta atividade humana. Deste modo, devemos abandonar concepções datadas e superadas, tais como: “teatro é a arte mais completa de todas” ou “teatro é a síntese das artes”. Estas idéias são equivocadas, pois quando uma outra Arte é usada no Teatro ela se transforma e passa a compor a linguagem cênica, anulando-se. Ela se descaracteriza pura e simplesmente e desaparece.

Agora que já temos uma certa noção de como funciona esta arte milenar, vamos para as Teorias a respeito de sua origem...

Todo ser humano tem uma tendência a se travestir, a se personificar, a se mascarar em outro, em querer ser diferente da sua própria natureza. Isto tudo, por desejar ser melhor do que é, para ridicularizar um comportamento seu ou alheio, transmitir uma idéia ou exteriorizar sua angústia, medo ou prazer. Isto é o cerne da atividade teatral. Apartando-se dos fatores ligados à Psicologia, à Antropologia, e centrando nossa preocupação na Arte Cênica, vem a questão: como ela pode surgir e se desenvolver com manifestações tão variadas?

Há três teses básicas sobre a origem do Teatro:

1) Tese do Ritual ou da Festa Religiosa
Através de uma atividade comum, as pessoas se congregam para cultuar a natureza, glorificar divindades e heróis, influenciar o comportamento das pessoas, relembrar o passado, preparar-se espiritualmente para uma caçada ou uma guerra, entre outras coisas. O ritual ou a festa é uma manifestação simbólica da realidade, simplificando-a, e, com o decorrer do tempo, transforma-se em uma religião complexa. Durante esta transformação, são incorporados máscaras, músicas, danças, figurinos, cenários, textos. Nos escritos de Artaud, Meyerhold, Chaikin, Barba, entre outros, encontramos algumas justificativas destas idéias;

2) Tese do Contador de História
O ser humano, com seu instinto narrativo, cria histórias fechadas (lendas, descrições de caçadas ou guerra, vida de heróis, etc) para servir de modelo de conduta às pessoas. Em um primeiro momento, o narrador, talvez, suprisse todas as necessidades expressivas, utilizando-se de atuação, máscaras, figurinos, músicas, entre outros elementos e, com o decorrer do tempo, isto se aprimorou, necessitando de vários auxiliares. Percebemos ecos desta tese nas idéias de Brecth, Boal, Grotowski, entre outros;

3) Tese da Imitação
Ao copiar os acontecimentos da natureza (chuva, terremoto, queimada), os movimentos de animais (fuga, alimentação, procriação) e as atividades cotidianas (colheita, guerra), o ser humano desenvolveu habilidades que, junto com figurinos, maquiagem, cenários e outros elementos, enriqueceram a sua expressão, justificando e explicando a sua própria colocação no universo. Esta concepção é analisada nas obras de Aristótoles, de Antoine ou de Stanislavski.

Estas três teses apresentadas acima não são definitivas e até podem ser, algum dia, totalmente descartadas. Pode ser até que cada uma delas complete a outra para explicar esta arte. Devido a alguma radical mudança das relações sócio-econômicas, as atividades (rituais, festas, histórias ilustradas, cópias de atividades do cotidiano, etc) transformaram-se em manifestações estéticas, reorganizadas numa outra ordem, desvinculadas da sua função utilitária imediata. E isto acontece somente com os gregos.

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